Onde residiria meu amor?
Posso não estar lá, mas um dia chegarei. É como se meu vazio fosse mais do que saudade; como se esperasse algo mais de mim.
Prevejo tudo o que realmente importa, e mesmo assim, e se o amor desiludisse tanto a ponto de já não poder suportá-lo?
É uma coisa cheia de esperanças mórbidas, algo descuidado que não apenas foge, mas abandona — mesmo sem saber como. É amor! Que culpa tem ele? Apenas sabe amar, e nada mais. Consegue ser frívolo nos momentos ainda não compreendidos.
Eu ainda estou aqui, mas esqueço de tudo e te procuro, pois sou um pouco tonta. Tento reconstruir uma realidade fantasiada do bem que já não faço. Já não sou mais eu, nem sou mais esperança. Fugi e, por entre o nada, nada mais achei...
Se dou e recebo, me transformo em algo que minha alma não espera. Preparo mais do que palavras justas: não quero viver entre metades. Sou um pouco de luz escondida atrás de portas trancadas que guardam nossos segredos mais fiéis. Sou quente, como a única noite de inverno, e desejo que minha temperatura te faça divino, pois mereces a sinceridade dos meus lábios.
Minhas caretas encerram a nossa ilusão cotidiana. Deixei de acreditar no mesmo todos os dias. Ainda esperei por ti. Quero perder o tempo e me encontrar em ti, criar um mundo singelo onde só a esperança é permitida — à loucura, um abrigo.
Que ela ainda se apoie nos teus desejos obscuros, talvez possa trazer lucidez ao teu estado precário.
Desejo forte tudo aquilo que quero. Tu és minha — não por posse, mas por rendição. Deixei de ser o mesmo. Mas será isto real? Ou o efeito da paixão? Serás tu demasiado boa para ser verdade? Irreal... não continues a fingir que te importas, que me vês mesmo quando nem sempre estou presente.
Tu me chamas à tua sala do trono com uma elegância majestosa. Por me amares?
Devagar, entro no manjar dos deuses. Contemplo. Não sou a humilde presença que, com simplicidade, transmite a força da transformação? Que toca o que em mim reflete e chama minha vida de volta ao instante de paz.
Mas ao mesmo tempo que és mortal, tens a grandeza de mil dias. A pureza de um mundo infinito que se estende após ti e transcende minha alma despida apenas com um olhar.
E lá me conheces: comedido, faminto e solitário. Com um coração humano que busca, freneticamente, a perfeição e se ilude com meias verdades.
Saberei eu o que se espera de um rei? Ou desta vida? Pois no teu sorriso sustive mais do que a respiração. Ali, deixei o tempo passar, ser quem é, fluir no teu tempo. O que seria de mim?
Não para me perder ou me preencher, mas para talvez encontrar e dar sentido ao que há muito perdi.
Ali não há culpas, nem culpados. Não há sensações reprimidas, nem erros — apenas caminhos que terminam e outros que começam.
Não é esquecimento invisível, é apenas o mundo a resguardar-se numa deliciosa dança. Mesmo sem jeito, sou convidado a conduzir-te, a preencher tua presença doce, delicada, gentil — como tu — e, ao menos, tentar acompanhar. Tentar... é ingenuidade ou sou eu a tentar valer tudo isto?
Como algo sagrado nas mãos, dou alguns passos para ver o que surge. Pode ser apenas contemplação, mas por momentos, até eu parecia eterno ao teu lado.
Rosto sem expressões, mas olhos que soltam o licor da paixão com sabor de enlouquecer. Não pelo calor dos corpos, mas por pura conexão — uma energia incontrolável, contida entre nós.
É um meio sorriso que desmonta qualquer cavalheiro. Será isto arte?
É apenas uma dança que brinca com nossos corações, ou será rendição? Uma referência que desconfigura a imagem perfeita onde os corações, enfim, se tocam.
E, no entanto, não sei onde confiar: nas minhas palavras ou no teu olhar?
Do que tens medo nesta hora? O que te impede de te entregares, aos poucos, a um amor que te sustente?
Não é salvação, nem o fazer diferente. É apenas te olhar como me olhas, e por um instante, sermos só nós. Tantos barulhos machucam nossa percepção do real — corações parecem distantes e gelados.
Faz parte da nossa realidade, algo mal pensado... pura intuição.
Serei eu capaz?
E como se ela falasse, sua expressão diria:
— Capaz de sonhar? De temer ser real? De destruir o que conheces e te tornar melhor para um futuro onde possas ser mais por ti?
Não prometo amor, nem promessas vazias. Mas escolho, com o tempo, o que vejo em ti.
Provoco o que mais anseias ser, o que finges ser para o mundo — até para ti mesma. Pensaste ser capaz. Achas que consegues?
Queres uma prova? Aceita-me como sou, não para te ajudar a reconstruir o que achas ser teu. Posso ser ilusão, mas preciso iludir para que vejas com verdade aquilo que, em meio ao caos, resiste e permanece.
Onde a dor e a consolação se entrelaçam e formam a resiliência em suas formas sagradas.
Quem irá chorar primeiro? Quem desistirá e se afastará?
Se tocares minha frieza, pode ser que ela se derreta.
Mas por que preciso me sabotar para não acreditar no que é real?
Neste mundo, nada é o que parece. Tudo faz parte de um grande finale.
E sozinha sigo minha errante caminhada, pois quero ver-me a mim mesma. Não preciso de nada tão avassalador no meu caminho.
Quero apaixonar-me por mim. No fim, sou apenas eu à mesa comigo. Apenas eu ouço minhas palavras cruzadas. Por mais que deseje, minha realidade agora não permite encaixar sonhos pequenos, realidades invertidas, possibilidades limitantes.
Ainda olho para quem sou e não sei até onde posso ir, pois não imponho limites, nem fecho as portas ao conhecimento dos sonhos.
Mas, melhor que o caos da transformação, é o furacão que sou — que coloca tudo a girar à minha volta. É essa força, de não querer ficar no ar, que me move, me reconstrói e procura minha separação de almas.
Que todas essas almas em mim possam lutar juntas. E, com a sagrada sabedoria que carrego, possa resistir e enfrentar não apenas meu eu de hoje, mas algo maior.
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