Pular para o conteúdo principal

Ao homem da Floresta

Para daqui a um milhão de anos,

como se os corpos voltassem a se reencontrar.

Haveriam muitas vidas na estrada que me levariam a ti —
de volta a um grande espetáculo do qual fazemos parte.
Mas uma vida…
não chega aos pés de um milhão de anos.

Seria injusto, talvez cruel,
poder voltar ao mesmo caminho,
rejeitar as mesmas paredes que já se entendiam
apenas por se olharem demasiadamente.

Mas eu — que ainda aqui pairo pelo ar —
escolho estar por perto,
como se, do centro das minhas escolhas,
eu pudesse simplesmente ser:
amar, libertar,
ser indiferente e ao mesmo tempo quente —
demasiado quente para ignorar
que estamos exatamente no momento certo.

E mesmo sem compreender,
escolhi amar, libertar, ser —
mesmo quando a indiferença me chamava.

Porque havia fogo.
Demasiado fogo,
mesmo que tudo parecesse fora de tempo.

Foi ali, naquela noite improvável, que nos encontramos.
Apenas uma dança,
poucas palavras,
um desafio entre mentes que nem se conheciam.

Mas hoje, ao tocar tua pele,
rejubilo,
estremeço por inteiro.

Deixo partir de dentro de mim a intensidade
para encontrar em ti
mais do que refúgio.

Mais do que tudo,
uma vida poderia ser maior que isso —
mas nem uma fração de segundo
poderia conter o abismo entre nós.

E foi aqui,
neste momento perfeito e inacabado,
que os teus lábios fugiram dos meus.

Como se o destino dissesse:
“ainda não.”

Mais uma vida se passou.
Mais um instante eterno se perdeu.

Por mais perdido que eu ande,
olharei sempre por ti.

Meu coração te guarda,
te protege,
e ainda te ressente — em mim.

Não te toquei,
mas entre olhares dividi minha alma.
E ainda me pergunto:
em quantas vidas mais vamos?

Quantas forem precisas
para nos fragmentarmos
até sermos um só.

O destino — que desafio entre os medos da minha tenumbra alma —
subjuga os escombros esquecidos de mim mesmo,
que ainda sentem,
mesmo sem pulsar.

Mas nesta terra,
onde tudo é vida...
existirá morte de verdade?

A terra transforma tudo.
Por ela se delimita a continuidade da minha esperança,
presa em suas metódicas transmutações.

E por momentos, cansei.
Sentei-me à porta da vida
e contemplei um céu azul que só transmitia paz.

Com o tempo, criei raízes,
e contemplei meu coração gigante —
de madeira viva.

Minha alma, enegrecida pelos anos,
adensava-se,
guardando os teus sentimentos
— esquecidos por ti,
mas guardados por mim.

Ali fiquei.
Raiz.
Silêncio.
Memória.

Foi então, quando já nada esperava,
que em meio à esplendorosa floresta que me enraizava,
meu cerne mais ínfimo captou tua presença carnal.

Caminhavas descalça, sem pressa.
Teus olhos, carregados de vida e vigor,
sabiam quem foste,
mas estavam esquecidos de ti —
por tantas desilusões.

Ainda assim, tua sensibilidade jamais se desconcertou.

Tocaste a terra que um dia também foi tua —
como se pudesses me encontrar.

Sentiste-me ali, bem naquele bosque.
Buscaste o infinito sem saber,
e encontraste muito mais.

Libertaste algo que nem tu saberias nomear.

Naquele instante,
fomos todos os instantes.
As nossas muitas vidas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Verdade sobre o Amor que Ninguém te Conta

My kind of Love E que hoje me levantei, mas a minha vida não seguiu comigo. Preciso de uma cara para obter uma resposta. E, na encruzilhada da vida, eu baixei o meu ritmo, pois ali senti que as palavras ainda me deixam para trás. Com a tristeza abatida no meu rosto, fiquei onde deveria. Guarda o teu coração, pois as palavras que chegam pela metade são vazias. Mesmo com desculpas cuidadosas, não passam disso: desculpas. Não quero fechar o meu coração à minha honestidade. Não quero deixar de entender com o coração e processar com a mente. Necessito aprender a viver com o mundo, onde ele faça parte de mim, faça parte de onde estou. Que tudo o que a mim me aparece esteja disposto a reviver o meu ser, como se estivesse em primeiro lugar. O meu tipo de amor não espera apenas por ti, mas também pelo lugar onde tu estavas — ainda mais do que eu esperei. Não quero apenas amar. Quero aprender a demonstrar muito mais do que um amor devastado. Quero ser eu o amor renovado, que respira e se r...

Quando a Vida Parece Estagnar: Reflexões Sobre Mudar e Renascer - Uma Vida!

Sabes do que me lembro? De ti. A vida é uma história onde cada ano conta como um conjunto de palavras. Eu perdi o interesse na vida, pois tudo aquilo que faço não parece ser suficiente para sair do lugar. Parece um sonho que, um dia, realmente tive — um sonho que mostrava o quanto é difícil mudar aquilo para o que nascemos. O livre-arbítrio é uma condição extremamente complicada, pois certos caprichos são difíceis de quebrar, e eu me rasgo junto com eles. Não sabia que conseguiria mudar tanto e, mesmo assim, continuar igual. Não sabia que minha mente conseguiria me pregar tantas partidas, assustar-me até a morte para me ensinar que consigo controlar as minhas fraquezas, separando a ilusão da realidade. Mas, a cada dia, essa linha fica mais tênue. Eu tenho medo de enlouquecer. Receio que preocupações e anseios me deslumbrem e consigam levar o melhor partido de tudo isso. Mas isso tudo... o que é afinal? Preciso de uma vida para descobrir, e mesmo assim não chega. O que são os...

Viagem do Tempo

  Oh tempo que passas depressa, demasiado depressa para poder acompanhar; ontem ainda era pequenina e hoje olho por alguém mais pequenino do que eu.  As coisas acontecem depressa demais para poder acreditar na realidade que compõe meus olhos, tudo é novo, uma grande aventura e de certo grandes amores se irão criar.  Muitas coisas não entendo e por certo não entendo este divino amor também, mas creio que consigo ser o melhor dos meus dias para ti. Um desafio se forma à minha frente, e é talvez um dos mais empolgantes e e divertidos que já tive.  É uma bênção poder cuidar de ti, saber como tu estás, tentar ser o melhor que consigo e não desistir ou desanimar só porque as coisas estão difíceis. Não quero perder esta vontade de vencer sempre, de conseguir ajudar-te da melhor maneira que sei e sempre cuidar cada vez mais de ti! A cada dia que se cria entre nós reconheço que nunca mais vou viver sem ti, tornei-me sensível experiente de um amor que parece cada vez mais próx...